ENTREVISTAS E DEPOIMENTOS - Rosa Carvalho

Rosa Carvalho, artista
(depoimento recolhido por email em Maio 2010)

Concretamente em relação à formação do grupo “Arquipélago”, que factores presidiram à tomada de decisão de criação (formal) do grupo? Para além das afinidades próprias resultantes das relações de amizade e companheirismo, haveria também, na sua génese, motivações de carácter programático, estético, ideológico?

R: O grupo que expôs em “Arquipélago” surgiu naturalmente, dadas as afinidades intelectuais, vivenciais e artísticas existentes entre as diversas pessoas que o formaram. Esta foi, na realidade, a última manifestação conjunta do grupo, surgindo na sequencia de outras exposições realizadas anteriormente – no Círculo de Artes Plásticas de Coimbra e na Galeria Metrópole, em Lisboa.

Que tipo de alterações pretendiam criar, no contexto socio-cultural nacional (à época)? Considera que estariam a tentar ajudar a criar uma conjuntura que correspondesse, cada vez mais, àquela na qual gostariam de viver? Ou seja, que estariam (de dentro para fora) a construir um universo sócio-cultural que vos permitisse ser artistas (existirem enquanto tal) de acordo com um contexto verdadeiramente contemporâneo?

R: Não existia um programa estrito em termos estéticos ou ideológicos, mas antes uma vontade comum de afirmação perante o panorama artístico nacional da época, pouco estimulante.

Especificamente sobre a exposição “Arquipélago” (SNBA, Lisboa, 1985): a visão distanciada que nos permite o tempo, leva-nos a ler a montagem da exposição e o display de apresentação das obras no espaço como uma inteligente estratégia de articulação entre os 6 universos criativos distintos e individuais. Houve, de facto, esta preocupação de criação de pontes de dialogo entre as obras dos 6 artistas, por forma a privilegiar a leitura da exposição como um todo coeso, embora viabilizando sempre a individualidade própria de cada percurso em particular?

R: Desde o início, assumimos plenamente a singularidade do trabalho de cada um – o que se reflecte, aliás, no título que demos à exposição. Em relação à montagem, não foi necessário elaborar conscientemente estratégias expositivas no sentido de criar “pontes de dialogo” entre os vários artistas, porque esse dialogo já existia à partida e não podia, portanto, deixar de se manifestar.

Particularmente, em relação às suas obras apresentadas na exposição, resultaram de algum trabalho continuado que estivesse por aquela altura a desenvolver? Foram concebidas especificamente para o contexto da exposição? O que motivou a sua concepção/ criação? Como sabe, o catálogo da exposição não documenta factualmente nem reproduz imagens da exposição, pelo que lhe pedia que me enviasse informação (o mais completa possível) sobre todas as suas obras em exposição.

R: Em relação ao trabalho que apresentei em “Arquipélago”, ele surgiu na sequencia de uma exposição realizada nesse mesmo ano na Galeria Diferença, tratando-se também de pinturas em que a apresentação fragmentária da figura humana se conjugava com a sugestão paisagística (enquanto que o meu trabalho anterior era essencialmente abstracto).